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IPO Valley no Mundial FCI 2022

  • cristined
  • 31 de ago. de 2022
  • 11 min de leitura

Atualizado: 3 de set. de 2022

Oi, pessoas! ;-)


Depois de alguns anos, resolvi voltar a escrever meu blog de viagem. Ou meu diário de bordo, como sempre chamei. Não sei bem porque decidi voltar a escrever, mas acho que é simplesmente porque escrever me faz bem. Li há pouco tempo o meu segundo diário de bordo, do ano de 2011, quando vim competir com o Luger no Mundial da FCI na Alemanha (meu primeiro mundial como competidora, com meu primeiro cachorro treinado por mim), e aquilo me fez viajar no tempo, e ter de novo sensações das quais eu havia me esquecido, e me lembrar de lições aprendidas na época que me acompanham até hoje. Não sei quantas pessoas vão ler, nem sei se minhas informações ainda serão  úteis para alguém que queira estar aqui amanhã fazendo o mesmo que a gente, uma vez que informação, nos dias de hoje, é algo tão fácil de se conseguir. Mas com a certeza de que, ao menos a mim, eu to fazendo um bem danado, bora colocar palavras nessa folha em branco, pra eu ter um pedacinho da minha vida por escrito que eu possa ler daqui a mais de dez anos.


Depois de muitos anos, alem do Marcos, eu também vou entrar em prova em um campeonato mundial com meu cachorro. Meu objetivo final, quando eu treino um cachorro, é sempre conseguir vir pra um Mundial com ele, e conseguir participar de quantos mais forem possíveis pra gente. Infelizmente, nos últimos anos, pessoalmente eu não consegui vir com meus cães, por diversas razões que fugiram ao meu controle, desde uma lesão grave no meu malinois dos sonhos até a incrível e maior transformação da minha vida, que foi me tornar mãe da criança mais adorável do mundo (de quem estou morrendo de saudade nesse momento), passando por uma pandemia que afetou o mundo inteiro.


Ainda bem que o Marcos Rangel existe na minha vida (Eu te amo!), e pude acompanha-lo com o Prinz em cinco campeonatos mundiais diferentes, conseguindo, em alguns deles, o inimaginável: a excelência na obediência por dois anos seguidos.


Os campeonatos mundiais nos apresentam a um mundo completamente novo, um mundo onde o esporte com cães cria e transforma amizades, diminui distâncias e ensina idiomas, um mundo onde o riso e o choro andam lado a lado, e onde não precisamos explicar o que significa IGP (ou IPO, ou schutzhund...rsrsrs!). Um mundo que definitivamente nos deixa (muito!) mais pobres, mas também mais felizes e com muito mais história pra contar. Ou escrever...rs!


Depois de três anos sem viajar para um Mundial, a sensação de estar novamente perto de um, de estar aqui na Europa de novo, é sem dúvida maravilhosa. Acho que desde 2010, só não viajei em 2015, quando estava grávida da Laurinha, nossa filha. Marcos também. Pra ele, se não me engano, desde 2008, só 2015 faltou na viagem anual, até vir a pandemia e pausar o mundo inteiro. E minha felicidade em finalmente competir de novo, então? Quer dizer: competir, não. Participar. Não tenho a pretensão de competir, nem espero grandes resultados, sendo bastante realista. Mas nós dois, eu e Marcos, estamos aqui e vamos tentar o nosso melhor (que na maioria das vezes não é o suficiente, e tudo bem). Não é pelos resultados que treinamos nossos cães, mas pela felicidade. Nossa, e deles.


Então vou tentar escrever um pouquinho da nossa realidade por aqui, dos treinos, dos amigos que sempre nos apoiam, dos momentos engraçados, dos perrengues, dos sucessos e dos fracassos. O sucesso é gostoso demais, mas é o fracasso que nos ensina e nos move adiante em busca de sempre tentar ser melhor.


Saímos do Rio na quinta feira, dia 25/08. Viajamos pela Air France, e pousamos em Paris. Eu com o Atoxx, Marcos com o Nikko. Conseguir voar com os cães pra esse mundial foi um capítulo à parte, pois, além da forte onda de calor que assola o continente Europeu, as companhias aéreas têm sofrido diversos embargos políticos, o que tem dificultado bastante a aceitação de cães no porão. A única solução possível para nós foi descer em Paris, bem longe do nosso destino final, que é a cidade de Roudnice nad Labem, na República Tcheca. Não há atualmente possibilidade de conexão transportando cães no porão, e a Lufthansa, companhia que a gente queria ter viajado (pois queríamos ter descido em Munique), não está aceitando, temporariamente, cães no porão. Foi tão difícil conseguir um vôo adequado pra gente com os cães que quase desistimos.. Sorte que um amigo (Valeu, Fabão!) indicou um agente de viagens excepcional que conseguiu esse vôo pra gente.


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Assim que pousamos em Paris, deixei o Marcos pra trás e corri pro desembarque. Isso porque alugamos um carro (uma campervan linda!) numa loja que fica a 50km do aeroporto. Pra dar tempo de chegar na loja antes dela fechar, eu fui sozinha de Uber e Marcos ficou responsável por esperar nossos cães, pegar nossas malas despachadas e pela papelada de liberação dos cães na França (que ninguém pediu, aliás!).


Alugar o carro dessa vez também não foi tão simples. Imagina um carro pra caber duas caixas 700 montadas dentro? Aquela maior de todas, sabem?


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A nossa van também não cabe (foi um quebra cabeça colocar as duas caixas com os cães e todas as malas), mas ao menos cabe uma montada e uma desmontada. Então o Atoxx fica na montada e o Nikko fica na desmontada. Acho que ele nem percebeu que a caixa dele não tem teto...rs! A outra opção seria alugar uma van normal grande, mas o preço tá absurdo (pra vocês terem uma ideia, o preço de uma van grande, Vito ou maior, está o mesmo preço que alugar um motorhome completo, algo em torno de 18 mil reais pelos dias que vamos ficar por aqui). Outra opção seria alugar um furgão comercial, o que é ótimo na maioria das vezes, mas com o calor que anda fazendo, fiquei com medo de colocar os cães no compartimento de carga do furgão, que não tem ar condicionado. Economia porca pra quem já está completamente f*d!d@ de dinheiro pra arcar com uma viagem dessa, que é sempre uma fortuna. Então, a campervan, indicada pelo Mário Sérgio, salvou. Bom preço, cabe as caixas, e ainda de quebra tem duas camas (uma no teto e uma em baixo), fogão, pia, frigobar... um luxo só! Preço justo e atendimento maravilhoso! Pra quem quiser conhecer, a empresa se chama Roadsurfer. Eu queria ter alugado um motorhome nessa viagem, mas o preço dessa van e a burocracia dos sites de motorhome me fizeram mudar de ideia.

Marcos me esperou cerca de três horas no aeroporto, até eu ir buscar a van e conseguir voltar. Imagina o perrengue que ele passou, com três malas grandes e duas caixas gigantes com dois cães, sozinho. As malas pequenas eu levei comigo no Uber. Mesmo assim ele conseguiu ir pro lado de fora com tudo e soltar os caes, que estavam obviamente muito apertados depois de tantas horas na caixa num vôo tão longo. Eu nunca conseguiria sozinha! 😅






Depois que cheguei de volta no aeroporto, levamos cerca de uma hora para conseguir resolver nosso quebra cabeça e colocar tudo dentro do carro, e lá fomos nós, em direção a Iffeldorf, na Bavária alemã, para encontrar com Peter e Connie Scherk, e todo o pessoal de Heuwinkl. O time de Heuwinkl se reúne no clube todas as sextas e sábados (todos dormem lá), então combinamos com Peter e Connie de encontrar com eles lá mesmo no sábado de manhã. Dirigimos a noite inteira, e chegamos em Heuwinkl por volta das 5h da manhã. Todos estavam dormindo, claro, e aproveitamos para curtir nossa campervan: montamos nossa cama no teto e dormimos até às oito, mais ou menos. Confortável demais!


Acordamos, passeamos um pouco com os cães e entramos num dos clubes de treino mais exclusivos e de alto nível do mundo: Team Heuwinkl. Ah, que saudades de vir aqui! Fomos direto pra mesa de café da manhã. Quanta saudade a gente estava do Peter e da Connie, depois de tantos anos sem conseguir nos encontrar pessoalmente. Amigos queridos, que sempre nos recebem de braços abertos, abraço bem apertado e um sorriso encantador no rosto! Amigos, como eu disse acima: o que de melhor o esporte com cães nos traz pelo mundo todo. <3


Acompanhamos o treino de obediência de todo mundo: vimos Etzel, o cachorro do Peter que ainda não tínhamos visto em treino; Boss, o novo filhote da Connie; revimos o treino da Fire, cadela da Stephanie Ollmann e vice-campeã mundial FMBB deste ano, Jordan do Horst Knoche e o Bullet da Katja Stuwe (criadora da minha Dixie, do Bowie do Peter, do Conan bicampeão mundial do Florian - canil Clan der Wolfe) ... Super treinos, super cães, super treinadores. Sempre um prazer enorme estar aqui e nos sentir bem vindos e acolhidos, quase que de casa, depois de tanto tempo.


Treinamos também, claro, mas bem pouco porque os cães com certeza ainda estão cansados da viagem. Eu fiz uma condução curta com Atoxx, colocando bastante power e luta na condução, que é o que ele gosta, pra ele ter uma primeira experiência boa depois da viagem. Fiz rambém salto e rampa, sem halter. Atoxx tem uma certa dificuldade na rampa, porque ele tem uma artrose no ombro causada provavelmente por alguma pancada, então tenho procurado dar um pouco mais de atenção à rampa, já que treinei bem pouco ultimamente, e ele praticamente não fez rampa nos ultimos tempos.


Marcos fez a condução completa com o Nikko, também com bastante emoção e power. Nikko fez uma condução linda, que rendeu elogios de todos por aqui! :-) Depois fez um pouco de salto na barreira, o ponto fraco do Nikko atualmente na obediência. Depois que ele teve o problema muscular na pata traseira, ele passou a ter bastante dificuldade para saltar, pois perdeu a técnica de salto que ele tinha. Marcos tem tentando fazer com que ele se sinta autoconfiante de novo para saltar melhor e de maneira mais segura, mas não tem sido uma tarefa muito fácil. Estamos torcendo muito para que ele consiga saltar bem na prova. 🙏🏻


Na hora da proteção, decidimos também fazer uma proteção curta com nossos cães. Feita a listagem de cães para o treino de proteção do sábado, com Atoxx e Nikko dentre eles. Muito chique, não? Nunca me acostumo a estar entre eles! Uma honra pra gente! :-)


Andreas Kreis figurou para todos os cães este dia, com exceção do Boss, filhote da Connie, que foi o Peter quem fez. Andreas é um dos figurantes de Heuwinkl, e foi figurante dos dois últimos campeonatos do DMC (Clube Alemão do Malinois) e da FMBB de 2017 (Campeonato Mundial do Pastor Belga).


Pedi a ele para premiar o controle inicial do Atoxx (sempre que premio e a expectativa dele de prêmio no início da proteção aumenta, temos menos problema de controle nesse início). Fiz com que o Atoxx revistasse apenas o quinto biombo antes de chegar no sexto onde estava o figurante, pra ele não cansar demais e latir de maneira mais intensa quando encontrasse o figurante.


Atoxx entrou super no biombo, limpo, intenso, com raiva do Andreas… Atoxx sendo Atoxx… 😁


Fizemos o controle pra fuga e fuga direto. Atoxx entrou super bem, dando trabalho pro Andreas… mas aí, de repente, do nada, enquanto o Andreas trabalhava a fase de transição, Atoxx abriu a boca e largou a mordida. Achei muito estranho, mas sem tentar adivinhar o que tinha acontecido, só ajudei ele com meu incentivo a atacar e morder de novo. Ele mordeu, e o treino correu super, até o final. Andreas levantou o Atoxx no estilo alemão de figuração para andar com ele na fase de carga. Fui percebendo que havia sangue na luva, mas não me importei, pois muitas vezes os cães mordem a língua ou a gengiva e continuam como se nada tivesse acontecido. Ao final do transporte lateral, após o transporte frontal, Marcos veio me falar pra parar o treino pois achava que o Atoxx tinha quebrado o dente. Tomei um choque… corri pra olhar a boca dele… e tinha quebrado mesmo! Um canino inteiro! Logo ele, que só tinha mais dois caninos restantes, cuidadosamente encapados com capas de titanium, capas estas colocadas aqui mesmo na Alemanha, há dois anos e meio. Uma fortuna pra cuidar dos dois últimos caninos restantes, e não adiantou… 😔 O dente quebrou no talo. Não ficou praticamente nada do canino. Parei o treino, todos ficaram chocados, pois nada havia acontecido para o dente quebrar. Aí eu lembrei da hora em que ele abriu a boca na fase de transição após a fuga, e tive a certeza de que o dente quebrou quando ele mordeu na fuga, e ter aberto a boca foi o reflexo dele na hora pela fratura.


Saí com ele do campo, olhei a boca ensangüentada e coloquei bem de leve a mão no dente quebrado. Ele quase me mordeu. E em seguida à minha tentativa frustrada de tocar o dente pra ver como estava, ele parece que percebeu a dor, e ficou desesperado colocando a pata na boca, como se estivesse com a boca cheia de formigas. Percebi naquele momento que ele estava com muita dor. Acho que durante o treino, tirando o momento da fratura em si, ele não percebeu e não sentiu dor, pois continuou normal, mordendo normal, cheio e forte, como sempre. Mas agora, a dor era bastante óbvia. Dei a ele duas dipironas e um anti-inflamatório e fui tentar digerir a informação de que meu cachorro tinha quebrado o dente a pouco mais de uma semana de participar de seu primeiro campeonato mundial. Percebi, naquele momento, o tamanho da incerteza que nos cercava: - Ele ia parar de sentir dor? Vou conseguir dentista aqui? Consigo arcar com os custos de um dentista aqui? Quanto será que vai custar? Será que vai ficar bom pra morder de novo a tempo? Se ele conseguir morder de novo a tempo de participar do mundial, será que ele vai conseguir manter a mordida sem escorregar? Se conseguir manter a mordida sem escorregar, será que também consegue nos momentos de luta mais intensa? Será que vou ter que ensina-lo a lutar menos para não correr o risco de perder a mordida?





Fiquei triste demais. Fiquei perdida por alguns momentos, e achei que o campeonato estava definitivamente perdido. Que mais uma vez não ia conseguir participar…


Deixei Atoxx na caixa, me recompus e fui acompanhar o treino do Nikko. Afinal de contas, se realmente estiver perdido para mim, para ele tudo continua! 🙏🏻


O treino do Nikko foi muito bom! Marcos priorizou o latido no biombo, e pediu ao Andreas que colocasse bastante “power” pro

Nikko responder bem ao seu primeiro treino de proteção na Europa. Na fuga, Peter ficou na guia e frustrou o Nikko, não deixando ele morder na primeira tentativa (e se bem me lembro, pois eu estava meio “zureta” na hora, nem mesmo na segunda tentativa o Peter deixou o Nikko morder). Marcos preferiu não treinar o comando para largar depois que o Nikko mordeu na fuga. Terminamos o treino com dois lançados, e embora Nikko tenha ido bem nos dois, ele soltou um pequeno choro na hora que entrou no segundo lançado, o que nos acendeu um alerta em relação ao seu físico. Tomara que não seja nada demais! 🙏🏻


Após o término dos treinos de proteção, Connie tentou em vão conseguir falar com um veterinário dentista para o Atoxx. A veterinária dentista na qual eles confiam está viajando, e tive a notícia de que um tratamento de canal aqui não sai por menos do que 1000 euros. 🙈 💸


Fiquei bastante desanimada, e comecei realmente a acreditar que o campeonato já tinha acabado pra mim e pro Atoxx. Fiquei muuuuuito triste, mas depois percebi que o que importa de verdade, que é o meu cachorro, está bem, está aqui comigo, e apesar de estar com dor no momento, essa dor vai passar e ele vai ficar bem. 🙏🏻 Ele não tem ideia de que vai participar de um dos maiores campeonatos de adestramento do mundo, e pra ele não faz a mínima diferença. Portanto, porque deveria fazer pra mim? Se der certo, ótimo! Vamos nós dois lá, dar o nosso melhor. Se não der, estamos aqui, ao ao lado do meu amor e de seu Nikko. E pronto! O que mais importa, nós já temos! ❤️


Saímos de Heuwinkl por volta das 15h, e viemos pra casa do Peter e da Connie. Vamos ficar hospedados aqui por cerca de uma semana, treinando e matando a saudade dos amigos. Peter e Connie moram em Königsbrunn, uma

linda cidade no sul da Alemanha, região da Bavaria (a região mais bonita da Alemanha), a cerca de uma hora de Heuwinkl. Venho aqui e fico com eles desde 2011. Königsbrunn é praticamente minha casa na Europa. É onde eu mais me sinto em casa nesse imenso velho continente.


Peter fez peixe na brasa pra gente de jantar, com vinho branco. Gente, tava MUITO bom!!!




Peixe, vinho branco, amigos, bons papos, conversa sendo colocada em dia, passeio com os cães nas redondezas… tem coisa melhor?


Tudo tão gostoso que quase consigo esquecer o dente quebrado do Atoxx… Quase…


Mais dipirona, mais repouso, e a certeza de que amanhã será melhor…


Peter e Connie, amigos queridos! A gente tava sentindo muito a falta de vocês! Bom demais estar aqui! ❤️































 
 
 

1 comentário


heidisandoz
01 de set. de 2022

Oi Cris e Marcos, li seu blog de viagem com muito interesse. Bom de mais você compartilhar as histórias e experiências. Fiquei triste em saber o que aconteceu com Atoxx. Espero que vai dar tudo certo e poderá participar do Mundial. Fico no aguardo dos próximas capítulos. Mande um grande abraço para Peter e Connie, eles não vão se lembrar de mim do seminário em Saquarema, mas mesmo assim.

Boa sorte para vocês dois e seus cães.

Adelheid de Uberlândia-MG

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